O que está por trás das manifestações na Ucrânia?
Disputa por influência explica protestos; multidão em Kiev e retrato de Yulia Tymoshenk |
Uma multidão de cerca de 200 mil pessoas tomou neste domingo a praça da Independência em Kiev, capital da Ucrânia. Os manifestantes enfrentaram frio intenso e nos últimos dias têm mostrado que também não têm medo da repressão policial.
Os protestos começaram depois que o presidente Viktor Yanukovych anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um de seus membros.
A questão, no entanto, é mais complexa e tem raízes na história recente do país, nascido após a desintegração da ex-União Soviética.
O país está no meio de uma disputa de forças entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidiade com a Rússia.
Quem são os manifestantes?
Os manifestantes são sobretudo de Kiev e do oeste da Ucrânia, região mais pró-Europa. Do outro lado do espectro político, os pró-Rússia vivem sobretudo no leste do país, onde o russo é a língua dominante, um resquício dos tempos da União Soviética.
Além da questão da integração com a Europa, acusações de corrupção contra integrantes do atual governo, pró-Rússia, também tem motivado os protestos.
Os três partidos de oposição no Parlamento se juntaram aos protestos. O ex-campeão de boxe Vitali Klitschko tornou-se uma das caras do movimento. Hoje ele é o líder do movimento Udar (soco, em ucraniano) e possível candidato à presidência em 2015.
A oposição também é formada por uma novidade, os ultranacionalistas, formados após a Revolução Laranja de 2004. O partido de extrema-direita Svoboda (liberdade) é liderado por Oleh Tyahnybok .
O terceiro partido também é parte da extrema-direita. O Bratstvo (irmandande) estaria por trás dos enfrentamentos com a polícia durante os protestos.
Por que Yulia Tymoshenko é importante?
Fotos da ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko são comuns nos protestos. A razão é que Yulia tornou-se, internacionalmente, a cara da oposição a Yanukovych, sobretudo na Europa.
Yulia foi presa em 2011, acusada de abuso de poder durante um acordo sobre comercialização de gás com a Rússia, em 2009. Ela foi condenada a sete anos.
Yulia se diz presa política e muitos líderes europeus condenam sua prisão. A Corte Europeia de Direitos Humanos não chegou a tanto, mas julgou que a detenção de Yulia antes mesmo de ser julgada configurou uma arbitrariedade.
A libertação de Yulia era uma das pré-condições impostas pela União Europeia para a assinatura de um acordo de associação com a Ucrânia. Yanukovych resiste, no entanto, às pressões para libertar Yulia, que também alega problemas de saúde e pede para ser tratada na Alemanha.
Yulia apoia o acordo com a União Europeia. Ela foi uma das líderes da Revolução Laranja de 2004, que conseguiu remover Yanukovych do poder, após alegações de fraude nas eleições. Na ocasião, como hoje, ele era apoiado por Moscou.
Qual é a posição da Rússia?
Para muitos analistas, Yanukovych está sob direta pressão da Rússia. O anúncio abrupto de que o acordo com a União Europeia não seria assinado veio logo após os russos ameaçarem impor sanções à Ucrânia. Logo antes da decisão, Yanukovych foi chamado de última hora para um encontro com o presidente russo Vladimir Putin, em Moscou.
Durante as negociações, a Rússia impôs checagens mais rigorosas na fronteira e chegou a bloquer a importação de produtos ucranianos.
Para analistas, a reação russa foi um recado para Yanukovych, caso ele viesse a assinar o acordo. A Ucrânia tem fortes laços econômicos com a Rússia e depende do gás russo. Boa parte das exportações do país também tem a Rússia como destino.
Yanukovych, eleito democraticamente em 2010, tem sua base no leste da Ucrânia. Dos dois lados da fronteira, os laços com a Rússia são considerados cruciais. Daí o acordo haver se tornado uma disputa por influência na Ucrânia.
FONTE: BBC
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